A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas — popularmente conhecida como “CPI das Bets” — deu mais um passo significativo na investigação sobre o papel de influenciadores digitais na promoção de plataformas de jogos online. Na sessão desta quarta-feira (21), o colegiado aprovou a convocação do influenciador Carlinhos Maia, além de solicitar a produção de Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) referentes a Virgínia Fonseca e Rico Melquíades, ambos já ouvidos anteriormente pela comissão.
Influência digital no centro do debate
Carlinhos Maia, que soma mais de 34 milhões de seguidores nas redes sociais, foi convocado como testemunha. A relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), justificou o chamado citando a “abrangência de sua influência” e destacando a necessidade de compreender a natureza das parcerias comerciais entre influenciadores e casas de apostas.
A preocupação central da relatoria é a potencial exposição de públicos vulneráveis, especialmente jovens, a conteúdos que promovem jogos de azar. “Torna-se imprescindível compreender os termos e a natureza dessas relações contratuais, bem como os critérios éticos e legais adotados para a divulgação desses conteúdos”, afirmou Thronicke em seu requerimento.
Embora ainda não haja data definida para a audiência de Maia, sua convocação segue a mesma linha adotada para outros nomes relevantes do universo digital, que estão sendo ouvidos como testemunhas para esclarecer suas relações com empresas do setor de apostas esportivas.
Relatórios de Inteligência Financeira: foco em Virgínia e Rico
Além da convocação de Carlinhos Maia, a CPI também aprovou pedidos ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) para a elaboração de RIFs sobre os influenciadores Virgínia Fonseca e Rico Melquíades. Ambos já prestaram depoimento à comissão, mas os parlamentares buscam aprofundar a análise sobre eventuais inconsistências ou indícios de irregularidades financeiras ligadas à publicidade de apostas.
No caso de Virgínia Fonseca, uma das maiores influenciadoras do Brasil, o pedido menciona suas campanhas de marketing para empresas de apostas, apontando a necessidade de “esclarecer o papel dos influenciadores digitais na promoção de jogos de azar” e avaliar se há fundamento para uma regulamentação mais rígida no setor.
“O Relatório de Inteligência Financeira relacionado à atuação de Virgínia Fonseca será de fundamental importância para o andamento das investigações sobre a promoção de apostas online no Brasil”, destaca o requerimento.
Rico Melquíades também teve seu nome incluído nas análises do COAF. Segundo a comissão, sua atuação digital com ampla repercussão nas redes sociais é vista como um “ponto central” para entender como a publicidade online tem colaborado para a difusão de plataformas de apostas, muitas vezes com pouca ou nenhuma supervisão regulatória.
Rumo à regulamentação?
A atuação da CPI das Bets expõe um dilema enfrentado por legisladores em todo o mundo: como equilibrar a liberdade de expressão e atuação comercial dos influenciadores com a necessidade de proteger o público — sobretudo menores de idade — contra a normalização de práticas potencialmente nocivas, como o jogo.
O avanço da comissão e o foco nos contratos publicitários e fluxos financeiros podem sinalizar um movimento legislativo no sentido de propor uma regulamentação mais clara, ética e segura para a publicidade digital de apostas no Brasil. A expectativa é de que os dados coletados nas próximas semanas fortaleçam a base técnica e jurídica para futuras deliberações.
À medida que a CPI continua a reunir informações, cresce também o debate público sobre o papel da internet e dos influenciadores na promoção de produtos e serviços com alto potencial de risco. As próximas audiências e documentos obtidos pelo COAF devem oferecer novos capítulos a esse enredo que une política, marketing digital e responsabilidade social.
